Total de visualizações de página

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Jornada ao Fundo do Inferno

ENTÃO numa calorosa
mas não quente noite de primavera
havia uma lua, mas se escondia por tras de alguma nuvem,
talvez tímida diante da beleza e altivez de sentimentos luciféricos crescentes
O jovem enroscado nos olhares da princesa
que jaz no castelo das ilusões, justamente nas torres de suas prórpias
impossibilidades, no distrito de infelicidades
O brilho dos olhos da princesa tiram-lhe o foco e o coração
mas o põe de pé sobre um caminho, uma jornada
de delícias e desprazeres também...

Era noite, sempre era noite
poderia raiar o sol mas ainda era noite: escura e densa
descendo pelas escadarias as mulheres gracejavam com
suas formas variadas e seus sabores e olhares o puxavam para dentro
seduzido por sua própria vaidade espelhada na volúpia dos corpos
das formas, dos seios e nádegas nuas
sua própria infância não fora tão cheia de alegria
pensara estar no céu, mas esse era seu próprio inferno!
morada de seus desejos mais profundos, onde se misturavam
com aquela vala comum, de intensas águas obscuras

tudo era muito reluzente, um caminho banhado a ouro e vinho
inebriado nas drogas humanas e fumaça de cigarros de boa marca
álcool de boa qualidade, música decente e um coração desejante...
As noites e noites, eternas se vertiam em lágrimas de sangue
e um desejo de encontrar sua contraparte parecia estar distante
assim como seu olhar perdido
que nas trevas  só delineava os mares
Exteriores e interiores,
observava uma onda quebrar-se sobre a outra
desmanchando castelos de areia cuidadosamente feitos
E enquanto suas edificações luciféricas que arranhavam os céus interiores pareciam
se abalar diante do fluxo sombrio de um oceano interior...

Era o sol da meia noite novamente,
tão genuíno quanto um sorriso amarelo
alegre, mas falsamente superficialmente
o suficiente para enganar-lhe novamente
Achava estranho, apesar da luz solar
não havia algo que pudesse ser chamado dia
Então o sol da meia noite o distraia
divertia seu anestesiado e ébrio cadáver
que outrora chamou de corpo
agora anestesiado por uma boa dose de tabaco
e vinho barato


Entrego-me as quimeras e sonhos sem fim
em um jardim de flores cor-de-rosa e rosas sem espinhos
pontiagudos que pudessem me ferir profundamente
e derramar meu precioso e rubro sangue
Rubor apenas da branca pele de Afrodite
e de seus cabelos de deusa ruiva
num amor infinito caí profundamente em seus braços
e encantos esquecendo-se de outrora
das noites esfumaçadas, era dia no inferno
e Afrodite sempre nua me seduzindo para seus braços
de um amor que parecia eterno
mas era etéreo...

Não há dia no inferno,
a cilada se desfez em duas semana de
algo que poderia ser chamado de amor
mas com a queda do anjo e articulações sangrando
eu me levanto procurando enterrar algum morto
pareço estar em um filme de terror
Não se pode enterrar toda uma vida
Vidas! Há vida nos cemitérios do Hades!
Há suculentas larvas nos cadáveres de meus ancestrais
seus corpos ainda parecem se mover
Dentro de suas tumbas: cinzas
Saturno passou por aqui
Havia uma mensagem
em desespero, eu choro...

-"Onde estão meus rubros amores?"
Quem levou o agridoce sabor de minha existência?
Morangos cheirosos eram meus corações
Que pelo vento agora são apenas
Pequenas existências num mundo de lembranças e recordações
Distantes e repletas de lágrimas e desgostos apaixonados
Em meus sonhos ainda a princesa.
Sua  face muda a cada fechar de olhos
Ri de mim e debocha provocantemente
Sou apenas um prisioneiro no inferno
O sonhos nos jardins multicoloridos cerraram-se
Um inverno rigoroso cresce em mim
Onde há luz e fogo
Os chacais atacam
Eu sou um deles agora

Cidadão do inferno e desprezo para o mundo
então não há nenhuma recompensa a vangloriar-se

Amante da lua e prazeres oculares
Acendo mais um cigarro e considero
Freud, Jung, Charcot
Inconsciente Coletivo
E bebo mais um rum
Choro mais uma noite sem lágrimas
meus olhos ardem, nada saí
tudo parece retido no meu peito de chumbo
Estou a ponto de comprar
uma pequena máscara devoradora de cadáveres
As luas são convidativas,
Nas corretas, religiosamente, estou prestando meu
Culto aos antigos
O prazer reside nas brumas esfumaçadas
Compro mais um isqueiro e rumo ao sul
Para nada encontrar

Então vou para o norte de noite e sempre
rumando em meio a árvores assustadoras
de uma beleza tétrica diriam
se eu não estivesse assim, estilhaçado,
pararia para tirar uma foto
Perdido sento em um montinho de barro
E reflito ainda pequeninas lembranças ardiam em meu peito
De gostos culinários simples e cheiros familiares
Esses que me sepultaram de vez no inferno
Agora me derramo dentro de outra garrafa de conhaque
enquanto a lua brilha rachando o céu com
Minúsculas estrelas cintilantes
Clichê é verdade. Mas lindo
e apavorante, ainda mais visto aqui de dentro!

 Difícil é olhar no espelho e ver toda a maquiagem fantástica borrar
de desgostosas lágrimas em pleno verão
nas madrugadas eternas, frias e solitárias
dentre um cigarro e outro a mascara se espatifa por dentre
os cacos de vidro encravadoa nas mãos
que vertem sangue e desespero
voltar atrás lá no começo de tudo
e não será um recomeçar?
mas sim começar de novo e diferente
novas imagens e cheiros
por que o que me fatigou e condenou a este inferno já não serve mais
e o álcool é insuficiente para curar feridas de uma alma suicida
que bebe o veneno, mas deseja viver!